sexta-feira, 28 de novembro de 2008

PREFERÊNCIA BASEADA NO DESEMPENHO

PREFERÊNCIA BASEADA NO DESEMPENHO
(PERFORMANCE-BASED PREFERENCE).

Durante a última década do século XX, os EUA desenvolveram um conjunto de legislação e politicas no sentido de regular a aquisição de serviços e produtos numa abordagem de “Preferência Baseada no Desempenho” (Performance-Based Preference). Esta abordagem tem sido estendida tanto ao governo federal como a outras agências governamentais estatuais e locais, cobrindo as áreas militares e civis.

It is the policy of the Federal Government that (1) agencies use performance-based contracting methods to the maximum extent practicable when acquiring services, and (2) agencies carefully select acquisition and contract administration strategies, methods, and techniques that best accommodate the requirements.

O objectivo é que as diferentes agências descrevam as suas necessidades em termos de “o que” tem de ser obtido e não na forma como tal tem de acontecer. É uma abordagem muito mais focada nas funções desejadas e não num produto ou serviço pré estabelecido.

Estas políticas têm sido incorporadas no Federal Acquisition Regulation Subpart 37.6 (Performance-Based Contracting), com orientações adicionais no OFPP document, "A Guide to Best Practices for Performance-Based Service Contracting."

As leis e as regulamentações nos EUA estabelecem a preferência para a aquisição de serviços baseada no desempenho. Conforme citado no Procurement Executives Council's Strategic Plan:
...over the next five years, a majority of the service contracts offered throughout the federal government will be performance-based. In other words, rather than micromanaging the details of how contractors operate, the government must set the standards, set the results and give the contractor the freedom to achieve it in the best way. (Presidential Candidate George W. Bush on June 9, 2000)

As leis, as políticas e as regulamentações tem mudado dramaticamente o processo de compras de produtos e serviços nas agências governamentais dos EUA, baseados e focados na missão das organizações e no planeamento operacional. Por isto, mais pessoas estão envolvidas nas equipas de compras dos dias de hoje. Em adição ao pessoal técnico e de contratação, por exemplo, existe “valor acrescentado” pela inclusão dos gabinetes financeiros e de planeamento. Estas pessoas trazem novas perspectivas, visões, energia e inovação ao processo, mas talvez lhes falte alguma da experiência e conhecimento contratual que as compras permitem ter.

Assim, foi criado um processo de 7 Etapas para congregar todas as pessoas nos objectivos do processo. São estas as etapas:
1. estabelecer uma equipa de trabalho integrada (multidisciplinar)
2. Descrever o problema que necessita de ser solucionado
3. Examinar as soluções do sector privado e publico
4. Desenvolver uma definição de desempenho ou uma definição de objectivos
5. Decidir como medir e gerir o desempenho
6. Seleccionar o fornecedor certo
7. Gerir o desempenho.

O objectivo do processo é fazer da compra baseada no desempenho acessível e lógica para todos e mudar o paradigma do tradicional “pensamento de compras” para um de orientação para a colaboração e o desempenho do trabalho de equipa, com focalização no planeamento do desempenho, da melhoria e na inovação e não simplesmente no cumprimento dos contratos. A compra baseadas no desempenho oferece o potencial para transformar dramaticamente a natureza dos serviços de entregas e permite ao estado aproveitar a enorme criatividade e inovação natural na actividade privada.

A Gestão pelo Valor (Value Management) é uma filosofia de gestão baseada no valor e na funcionalidade das coisas (produtos e serviços), que tem como principal objectivo obter o valor correcto para todas as partes interessadas (clientes, colaboradores, accionistas, fornecedores e sociedade). A GV dá resposta a todas estas necessidades mencionadas atrás através da utilização das variadas ferramentas que a constituem, especialmente, a Análise do Valor (AV), o Caderno de Encargos Funcional (CEF) e a Gestão do Valor Obtido (GVO).

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

A ANTROPOLOGIA DAS EMPRESAS

(ou como o “poder” afecta a vida das empresas)

Uma das questões que se nos levanta como mais frequência, quando tentamos compreender o mundo em que vivemos, é como é que surge e é gerido o “poder” na nossa sociedade.

Sabemos que o “poder” tem origem ou é exercido por quem consegue dominar três variáveis principais (há quem enumere e defenda outras, mas para este exercício apenas consideramos estas): “dar” algo a outrem; “retirar” algo de outrem; e, deter “conhecimento”.

Talvez, e sem querer elaborar qualquer tese académica sobre o assunto, seja conveniente compreender como é que cada uma destas variáveis funciona per se.

A capacidade de “dar” apenas pode ser manifestada por aqueles que detenham “recursos”. Os recursos podem assumir a forma de “moeda de troca” ou “terra”. A moeda de troca é qualquer coisa (bem ou serviço) que se possa trocar por algo, sendo a moeda (dinheiro) a forma mais comum utilizada como moeda de troca por algo que se adquire. A terra é o local físico de onde se retira um qualquer bem, seja este do género alimentar (ex: vegetais), recursos natural (ex: água, minérios) ou outros (ex: habitação, caça).

A capacidade de “retirar” apenas pode ser exercida por aqueles que detenham a “força” necessária para tal. Retirar implica, em princípio, ir contra a vontade de alguém, do alguém a quem algo é retirado. Para se exercer a capacidade de retirar algo a alguém tem de se ter uma capacidade ou força “física” e/ou “legal”. A força física é, geralmente, assumida em termos macro como força militar. A força legal é típica de um qualquer Estado de direito e assume a forma de força política.

Por último, o “conhecimento” como forma de exercer o poder é exercido de duas formas. A primeira por aqueles que detêm o conhecimento específico sobre algo que os demais semelhantes não têm. O secretismo sobre alguns assuntos cria esse tipo de poder. A outra por aqueles que detendo bastante conhecimento através da informação não permitem que outros exerçam alguma forma de poder. A ampla informação e conhecimento são uma forma de contra-poder que se apresenta como barreira aos que, por via de alguma forma de poder, pretendem exercê-lo sobre os demais.

As formas de “poder” ou “fontes de poder” mencionadas criam, dentro das sociedades, elites que tentam ampliar o seu poder por agregação de interesses.

Assim, e de forma muito genérica, temos as elites militar, política, intelectual, dos ricos e dos “famosos”.

O poder baseado na riqueza (posse de recursos) é das mais influentes, apesar de alguma descrição na sua actuação.
O poder baseado na força (militar) exerce mais ou menos poder dependendo do estado de direito em que se vive e está ainda muito presente nas sociedades ocidentais.
O poder com base na força legal/direito (política) está assente em estruturas políticas abrangentes (democracias).
O poder do conhecimento (intelectuais), sendo dos mais fracos, tem tendência a aliar-se ao poder político.
O poder com base nos “media” (famosos) é de todos o mais exuberante mas com menos capacidade de influência directa na sociedade, principalmente nas decisões político-económicas.

É o resultado final da conjugação destas forças que determina a forma como a nossa sociedade se constitui. Se a forma da sociedade em que vivemos têm impactes na nossa vida pessoal, da mesma forma também os têm sobre o mundo dos negócios. Apesar de não podermos considerar que uns factores são apenas causa e outros são efeitos, mas antes temos de admitir que todos eles se apresentam como causa de algo e simultaneamente como efeito de outro algo, entender estes factores que concorrem para a criação do ambiente socioeconómico em que vivemos, enquanto gestores, investidores ou simplesmente cidadãos, é de relevante importância para compreendermos o que se passa à nossa volta bem como o que potencialmente o futuro nos poderá reservar.

Sendo as empresas, numa sociedade capitalista como aquela em que vivemos, a base para o desenvolvimento económico das nações, é absolutamente necessário determinar os interesses confluentes e antagónicos que existem entre as primeiras e os agentes do poder.

Com base na análise feita atrás das fontes do poder e das elites que geralmente exercem alguma forma combinada desses tipos de poder, apesar da simplicidade com que a mesma análise foi feita, poderemos com alguma relativa facilidade depreender quais os resultados e os impactes que poderão advir da conjugação do exercício do poder e da actividade económica das empresas. Nem sempre as últimas são vistas ou entendidas (ou assumidas) como parceiros de quem exerce o poder. As empresas são vistas como entidades virtuais, despersonalizadas, que existem per se sem qualquer interesse para a sociedade, e que não se constituem em nenhuma elite pelo que a sua força corporativa efectiva é nula ou quase nula. Para quem possa entender as organizações que congregam ou associam empresas (as associações de empresas e similares), por interesses específicos, não o fazem para as empresas mas antes para os seus accionistas, pelo que devem antes ser vistas como órgãos agregadores dos interesses específicos dos empresários e/ou accionistas e não das próprias empresas.

Assim, as empresas são entendidas como fonte inesgotável de criação de recursos, para muitas partes interessadas, como accionistas, Estado, empregados e sociedade em geral e, desta forma, espoliadas do valor que criam. As críticas poderão ser levantadas em todas as direcções, que, potencialmente, nenhuma será verdadeiramente injusta. O facto é que as empresas, esses “seres” sem corpo e sem alma, criadoras de riqueza, morrem pobres na praia, arrastando por vezes outras partes interessadas.

Falta-nos um método para o estudo antropológico das empresas. Talvez, depois de se compreender bem as causas que levam à vida e à morte das empresas, mesmo admitindo que nada é eterno, se poderia evitar epidemias mortais como a que se avizinha, por culpa de muitas das partes envolvidas ou com interesses no assunto.