quinta-feira, 13 de novembro de 2008

A ANTROPOLOGIA DAS EMPRESAS

(ou como o “poder” afecta a vida das empresas)

Uma das questões que se nos levanta como mais frequência, quando tentamos compreender o mundo em que vivemos, é como é que surge e é gerido o “poder” na nossa sociedade.

Sabemos que o “poder” tem origem ou é exercido por quem consegue dominar três variáveis principais (há quem enumere e defenda outras, mas para este exercício apenas consideramos estas): “dar” algo a outrem; “retirar” algo de outrem; e, deter “conhecimento”.

Talvez, e sem querer elaborar qualquer tese académica sobre o assunto, seja conveniente compreender como é que cada uma destas variáveis funciona per se.

A capacidade de “dar” apenas pode ser manifestada por aqueles que detenham “recursos”. Os recursos podem assumir a forma de “moeda de troca” ou “terra”. A moeda de troca é qualquer coisa (bem ou serviço) que se possa trocar por algo, sendo a moeda (dinheiro) a forma mais comum utilizada como moeda de troca por algo que se adquire. A terra é o local físico de onde se retira um qualquer bem, seja este do género alimentar (ex: vegetais), recursos natural (ex: água, minérios) ou outros (ex: habitação, caça).

A capacidade de “retirar” apenas pode ser exercida por aqueles que detenham a “força” necessária para tal. Retirar implica, em princípio, ir contra a vontade de alguém, do alguém a quem algo é retirado. Para se exercer a capacidade de retirar algo a alguém tem de se ter uma capacidade ou força “física” e/ou “legal”. A força física é, geralmente, assumida em termos macro como força militar. A força legal é típica de um qualquer Estado de direito e assume a forma de força política.

Por último, o “conhecimento” como forma de exercer o poder é exercido de duas formas. A primeira por aqueles que detêm o conhecimento específico sobre algo que os demais semelhantes não têm. O secretismo sobre alguns assuntos cria esse tipo de poder. A outra por aqueles que detendo bastante conhecimento através da informação não permitem que outros exerçam alguma forma de poder. A ampla informação e conhecimento são uma forma de contra-poder que se apresenta como barreira aos que, por via de alguma forma de poder, pretendem exercê-lo sobre os demais.

As formas de “poder” ou “fontes de poder” mencionadas criam, dentro das sociedades, elites que tentam ampliar o seu poder por agregação de interesses.

Assim, e de forma muito genérica, temos as elites militar, política, intelectual, dos ricos e dos “famosos”.

O poder baseado na riqueza (posse de recursos) é das mais influentes, apesar de alguma descrição na sua actuação.
O poder baseado na força (militar) exerce mais ou menos poder dependendo do estado de direito em que se vive e está ainda muito presente nas sociedades ocidentais.
O poder com base na força legal/direito (política) está assente em estruturas políticas abrangentes (democracias).
O poder do conhecimento (intelectuais), sendo dos mais fracos, tem tendência a aliar-se ao poder político.
O poder com base nos “media” (famosos) é de todos o mais exuberante mas com menos capacidade de influência directa na sociedade, principalmente nas decisões político-económicas.

É o resultado final da conjugação destas forças que determina a forma como a nossa sociedade se constitui. Se a forma da sociedade em que vivemos têm impactes na nossa vida pessoal, da mesma forma também os têm sobre o mundo dos negócios. Apesar de não podermos considerar que uns factores são apenas causa e outros são efeitos, mas antes temos de admitir que todos eles se apresentam como causa de algo e simultaneamente como efeito de outro algo, entender estes factores que concorrem para a criação do ambiente socioeconómico em que vivemos, enquanto gestores, investidores ou simplesmente cidadãos, é de relevante importância para compreendermos o que se passa à nossa volta bem como o que potencialmente o futuro nos poderá reservar.

Sendo as empresas, numa sociedade capitalista como aquela em que vivemos, a base para o desenvolvimento económico das nações, é absolutamente necessário determinar os interesses confluentes e antagónicos que existem entre as primeiras e os agentes do poder.

Com base na análise feita atrás das fontes do poder e das elites que geralmente exercem alguma forma combinada desses tipos de poder, apesar da simplicidade com que a mesma análise foi feita, poderemos com alguma relativa facilidade depreender quais os resultados e os impactes que poderão advir da conjugação do exercício do poder e da actividade económica das empresas. Nem sempre as últimas são vistas ou entendidas (ou assumidas) como parceiros de quem exerce o poder. As empresas são vistas como entidades virtuais, despersonalizadas, que existem per se sem qualquer interesse para a sociedade, e que não se constituem em nenhuma elite pelo que a sua força corporativa efectiva é nula ou quase nula. Para quem possa entender as organizações que congregam ou associam empresas (as associações de empresas e similares), por interesses específicos, não o fazem para as empresas mas antes para os seus accionistas, pelo que devem antes ser vistas como órgãos agregadores dos interesses específicos dos empresários e/ou accionistas e não das próprias empresas.

Assim, as empresas são entendidas como fonte inesgotável de criação de recursos, para muitas partes interessadas, como accionistas, Estado, empregados e sociedade em geral e, desta forma, espoliadas do valor que criam. As críticas poderão ser levantadas em todas as direcções, que, potencialmente, nenhuma será verdadeiramente injusta. O facto é que as empresas, esses “seres” sem corpo e sem alma, criadoras de riqueza, morrem pobres na praia, arrastando por vezes outras partes interessadas.

Falta-nos um método para o estudo antropológico das empresas. Talvez, depois de se compreender bem as causas que levam à vida e à morte das empresas, mesmo admitindo que nada é eterno, se poderia evitar epidemias mortais como a que se avizinha, por culpa de muitas das partes envolvidas ou com interesses no assunto.

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