quinta-feira, 9 de abril de 2009

O DESAPARECIMENTO DA “VELHA” CLASSE MÉDIA

É recorrente nos dias de hoje, nos órgãos de comunicação, nos fóruns na internet, em conferências e noutros locais de discussão, lermos e ouvirmos que a classe média está em extinção.
Sem preocupações de excessivo rigor histórico, convém compreender como e porque surgiu a classe média.
Na idade média a riqueza estava acumulada na nobreza e no clero. A posse de terras e construções e de ouro e outras riquezas semelhantes davam à nobreza e ao clero a capacidade de dar e retirar a seu belo prazer. Os pobres viviam no ou abaixo do limiar da pobreza. Os ricos viviam em condições, para a altura, muito acima dos primeiros, criando-se um fosso difícil de anular. A terra era a principal fonte de receitas.
O comércio e algumas profissões especializadas foram causa e efeito simultaneamente do surgimento da burguesia, classe que se concentrava nos burgos, muitos com estatuto de independência relativa, especialmente no que dizia respeito aos impostos. Foi esta nova classe que contribuiu para a primeira onda de globalização, iniciada pelos portugueses mas verdadeiramente explorada por outras nações como a Holanda e a Inglaterra. O comércio foi fonte de altos rendimentos que foi enriquecendo a burguesia e empobrecendo a nobreza, que já não tinha na terra a grande e maior fonte de criação de riqueza.
Nestas condições, quando surge a revolução industrial com a máquina a vapor, a burguesia que tinha o capital e não precisava de terra para criar riqueza, investiu nos meios de produção industrial. De repente a mão-de-obra assumiu uma nova forma, a da sua aplicação à produção em grandes quantidades. Já não era preciso tanta gente para produzir tão pouco, mas antes pouca gente, com mais alguma especialização do que o mero saber de trabalhar a terra, que podia produzir muito mais. Esta gente era mais bem paga do que a tratar da terra, acabando por ser também mercado consumidor para os novos bens produzidos a custos mais baixos. Os investidores viram assim os seus investimentos altamente compensados, permitindo tal enriquecimento a esta classe derivada da burguesia ir substituindo progressivamente a nobreza na cadeia da riqueza.
Enquanto no campo os trabalhadores agrícolas apenas ganhavam para sobreviver, nas cidades com desenvolvimento industrial começava a surgir a classe média, que tinha mais qualificações e ganhava mais.
O século vinte foi o apogeu da classe média no Ocidente. A riqueza foi abundante, fruto da capacidade negocial do sindicalismo, e o nível de vida prosperou, tornando a classe média altamente consumista. Contudo, o movimento do investimento para outras regiões geográficas de mão-de-obra barata na procura da maximização do lucro, deixou a classe média ocidental sem a sua tradicional fonte de rendimento, a especialização industrial.
Simultaneamente, com a revolução da informação, outras profissões surgiram com muito maior importância e relevância para a economia ocidental. O conhecimento muito elevado e especializado assumiu-se como a principal necessidade nalgumas áreas. Para esta nova classe, apesar de ainda diminuta em dimensão, a riqueza ficou mais acessível. Para quem vivia do velho paradigma da revolução industrial a riqueza começou a desvanecer-se.
É nesta encruzilhada que estamos neste momento. Uma nova classe altamente qualificada e especializada assente no novo paradigma da revolução da informação vai prosperar, mas mantendo-se reduzida em dimensão. A grande classe média assente no velho paradigma vai empobrecer. Resta-nos saber até onde. Mas que é irreversível, é!

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